Os Anos da Juventude


Foi ouvindo as histórias da minha mãe que fui apresentada aos anos 50.

Foram os anos de sua juventude, dos 13 aos 23 anos. Minha cabeça de menina viajava àquele tempo...

Família tradicional de Itaúna, rígida...

Namorar? Só nos finais de semana, sentada na sala, com o vovô próximo. Moça fazer curso superior era raro. Os pais diziam que as filhas tinham de aprender a ser boas mães, esposas, donas de casa, a bordar, a estudar música, etc. Meus avós ensinaram muito bem às minhas tias e à minha mãe. Elas foram maravilhosas desempenhando seu papel. Às vezes, eram mãe e pai ao mesmo tempo. Naquele tempo, tudo era mais tranquilo, as horas não passavam como hoje. Os programas preferidos eram visitar o vovô – da parte italiana da nossa família, que tinha 12 filhos – ou sentar à tarde à porta de casa, para conversar. O predileto da minha mãe era ir ao cinema, sempre no mesmo dia da semana. Além dos bailes no Automóvel Clube e de fazer um footing na praça, para lançar um olhar “x” aos moços da cidade.

Ela estudava no Colégio Santana. Lá, havia uns meninos muito capetas, o auge da peraltice era ensinar aos padres europeus a falar português errado, usando palavrões para pedir as coisas. Uma curiosidade é que entre esses “capetas” estavam dois meninos de Belo Horizonte, da família Davis, que eram internos. Mal sabia minha mãe que eram os futuros tios do futuro marido da sua filha mais velha (eu!).

Muitas vezes, as irmãs vinham à capital. Duas delas eram muito vaidosas, ganhavam roupas novas quase toda semana. Como minha mãe era a caçula, “herdava” das outras os vestidos usados.

E que moda linda! Luvas, chapéu, saia godê duplo... Se usassem calça comprida, o corte era folgado, para não marcar os contornos do corpo. A beleza naquele tempo era mais natural. Os cabelos, por exemplo, não eram cheios de químicas ou chapinhas. Eram cortados em casa mesmo, pela vovó, e nem xampu existia, era sabão preto feito na fazenda.

Lembro, muito bem, de folhear os álbuns de fotografia da época e ver fotos da minha mãe andando pelas ruas do centro de Belo Horizonte. Parece que havia fotógrafos plantados sempre nos mesmos pontos, tirando fotos dos transeuntes para vender depois. Essas fotos viraram referência por registrarem a moda da época.

A maquiagem era leve: pó-de-arroz, batom claro e, quando o namorado estava para chegar, davam-se uns beliscões na bochecha. Esse era o rouge.

Havia algumas lojas chiques na cidade – Sloper e Sibéria – que vendiam roupas prontas, mas as moças preferiam mesmo era comprar os tecidos para a costureira confeccionar.

O casamento da mamãe foi em 1955, o enxoval era lindo: lençóis de percal ou linho bordado à mão, as camisolas e liseuse de seda com renda guipure. Mais tarde, nos anos 70, eu usei essas mesmas liseuses.

E como ficou linda, minha mãe de noiva! O vestido era simples e, justamente por isso, muito chique. A cintura dela era tão fina que nenhuma das três filhas que ela teve conseguiu usá-lo. Vendo as fotos, entendo por que minha mãe era confundida com a Martha Rocha. Só que muito mais bonita. Foi ouvindo essas histórias, de uma década tão cheia de sonhos e ilusões, que cresci. Foi uma década rica de emoções para a jovem Maria Ignês passou da adolescência para a fase adulta, casou-se e tornou-se protagonista de seu melhor papel: ser mãe.

Encontrei os sonhos, dessa década, materializados na casa da Rua Eduardo Porto, construída de 1951 a 1954. Em cada cômodo, em cada detalhe de acabamento revela-se a história de uma família unida e feliz. Há até um pequeno coração entalhado em pedra, escondido no muro da entrada. Precisa dizer mais?

No salão de 220 metros, destinado a festas e a casar as filhas, enxergo as meninas descendo triunfantes a escada da sala. A copa de cima, com o “passa-prato”, devia facilitar muito o trabalho das cozinheiras para dar conta de tantos convidados.

Desde que fui nesta casa pela primeira vez, em 2007, já pensando em fazer o Morar Mais, senti-me bem. Havia muitos móveis no estilo Chippendale, moda nos anos 50; e outros, “pé-palito”.

Tenho a certeza de que você, visitante, vai se sentir viajando no tempo ao conhecer o trabalho de 80 profissionais divididos em 46 ambientes no Palacete da Rua Eduardo Porto.

Quem sabe, vai se lembrar das histórias que sua mãe ou sua avó lhe contava sobre essa época...

Experimente!